Ministério

Parte II

Luciano Motta

"Atenta para o ministério que recebeste no Senhor, para que o cumpras" (Colossenses 4.17).


Cumprir o ministério de Deus para as nossas vidas não é nada fácil. São muitas as investidas do inferno para nos deter. Ministério é estar na linha de frente da batalha. Por isso, muitos cristãos têm preferido a tranqüilidade dos domingos à noite, no templo, sentados em suas "cadeiras cativas". Tem muita gente indo para Társis, para bem longe da vontade de Deus (ver Jonas 1.1-3).

Paulo, em defesa de seu apostolado, conta aos cristãos da igreja de Corinto um pouco de sua experiência como ministro de Deus:

"São ministros de Cristo? (falo como fora de mim) eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; em açoites, mais do que eles; em prisões, muito mais; em perigo de morte, muitas vezes. Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos; Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez. Além das coisas exteriores, me oprime cada dia o cuidado de todas as igrejas." (2 Coríntios 11.23-28)

Sublinhei algumas palavras acima para nossa reflexão:

"Trabalhos" - É óbvio que ministério dá trabalho. Quem não abre mão de si mesmo, da sua comodidade, não pode estar no ministério - e mal sabe o que está perdendo! Servir é essência do Evangelho. Se você estiver firme com Deus, buscando Dele a direção e a capacitação, é verdade que haverá cansaço e esforço, mas sua mente e espírito estarão vibrando e glorificando a Deus pela forma tremenda como Ele trabalhou através de você! Quer recompensa maior do que ser um instrumento nas mãos de Deus?

"Açoites" - Acusações, traições, comparações, indiferença... Existem muitas coisas que ferem o nosso coração no ministério. Sentimos quase que literalmente um corte em nosso ser; às vezes, nossa alma é rasgada! O apóstolo Paulo afirma que judeus o açoitaram. Veja bem: irmãos, pessoas próximas, podem te ferir com palavras e atitudes. Vão dizer que você está jogando a vida fora, que é louco! Vão te julgar e te condenar por estar na contramão da sociedade. Vão trair a sua confiança em algum momento de provação. É duro, eu sei, mas é a realidade. As relações humanas são complexas, ocorrem dores. No ministério essas coisas se acentuam. O inferno trabalha forte para desunir e desanimar. Mas em Deus você consegue resistir! Quando vier a dor e você fechar seus olhos, ou mesmo chorar, pense na cruz, pense em Jesus. Ele fez muito mais por você e, creia, não te dará prova maior do que você possa suportar.

"Prisões" - Existem momentos em que nos sentimos como que lançados em uma cadeia. As coisas param, os projetos não andam, a equipe fica como que paralisada. Existem também as cadeias da alma, dos sentimentos, da rejeição, das perdas. É como a travessia de um vale escuro. Porém, creia, a saída está logo adiante. Como no poema a seguir, baseado em Atos 16.20-31:
Perto da meia-noite.
Cela sombria, suja, abafada.
Cárcere interior.
Dois homens.
Rasgados.
Inchados.
Latejantes.
Marcas profundas.
Varadas nas costas.
Feridas abertas.
Vergões.
Insetos.
Incômodos.
Espasmos.
Pés encerrados no tronco.
Bocas salgadas, empapadas.
Suor que arde os roxidões.
Estômagos desidratados, apertados, retorcidos.

Quase meia-noite.
Olhares se entrecruzam, se fecham, se elevam.
Sons da alma, canção de amor.
Dois adoradores.
Rasgados de si mesmos.
Inchados de paixão.
Latejantes de motivação.
Suplantam as dores.
Vencem os odores.
Emudecem o lamento.
Superam o momento.
Sobem aos céus e perfumam a Sala do Trono.

Não é mais meia-noite.
Amor extraordinário, ágape, sobrenatural.
Explosão invisível.
Graça.
Compaixão.
Treme a terra.
Move o cárcere.
Abre as portas.
Despedaça a prisão.
Acalma o desesperado.
Salva o perdido.
Paulo e Silas sofreram muito naquela prisão por causa do ministério. Mas, no fim, Deus agiu de forma sobrenatural. Se você se sente preso de alguma forma, seja qual for a razão, eleve seus pensamentos ao Pai e louve, adore, entregue-se totalmente a Ele. Você verá a mão do Senhor se movendo em teu favor.

"Sofri naufrágio" - Quem nunca fracassou na vida ou no ministério? É possível que o naufrágio aconteça por causa de outras pessoas ou de fatores fora de nosso alcance. Mas, convenhamos, na maioria das vezes, somos os únicos responsáveis pelos nossos fracassos. O Espírito Santo trabalha conosco, mas quantas vezes o deixamos de lado e seguimos nossos próprios conceitos e idéias! Veja bem: uma coisa é levar um tombo, tropeçar, ok, você não viu a pedra no caminho. Outra coisa é ser avisado - e aí vem a obra do Espírito Santo, que fala ao seu coração e à sua mente, que usa a vida de alguém, seu pastor, um líder, um amigo. Isso é tropeçar na pedra e se ferir por vontade própria. Isso é navegar por tempestades apesar de previamente instruído. Graças a Deus que Nele temos uma segunda chance! Levante-se do lugar onde afundou, aprenda com seus erros e comece de novo. Ouça, desta vez, o Espírito Santo.

"Perigos" - Todo ministro enfrenta ataques do inimigo. O diabo e a nossa carne estão em aliança. Precisamos vigiar e não sucumbir às tentações que se nos apresentam. Dentre os perigos vividos por Paulo, há os "de salteadores" - o diabo é o ladrão que vem para roubar, matar e destruir. Além dos desejos da carne, ele usa as situações adversas, os açoites, como os que vimos acima, para nos empurrar para o pecado e acabar com o ministério que Deus tem nos dado. É fundamental "buscar as coisas que são de cima" e "pensar nas coisas que são de cima", orar e vigiar. Santidade é pré-requisito para um ministro vencedor.

"O cuidado" - Ministério é cuidar, é amparar, é ser responsável pelas vidas da equipe onde se está. Não importa a posição, seja líder ou não, todos devemos perceber as necessidades à nossa volta, agindo como agentes de restauração e apoio. Precisamos cobrir uns aos outros em intercessão; levar as cargas uns dos outros em amor.

* Este estudo é parte da série: Colossenses 3 e 4.
Leia também: Busca, Morte e Ministério [Parte I]

Marcadores: ,