Pelo Espírito


Luciano Motta

Texto: Zacarias 4.1-7

Após o cativeiro de Israel na Babilônia, o templo de Jerusalém estava em ruínas. Deus então começa a “despertar o espírito” (Esdras 1.5) de alguns do povo para subirem e reconstruírem o templo. Neemias levanta-se para levantar os muros. Zorobabel e Josué levantam-se para reconstruir o templo e a cidade. Vamos nos ater a estes dois últimos.

Primeiro eles restauram o altar, reorganizando o ministério dos sacerdotes e dos levitas (Esdras 3). Depois lançam os alicerces e começam a reconstruir o templo. Diz a Bíblia que eles “iam edificando e prosperando sob a pregação do profeta Ageu, e de Zacarias” (Esdras 6.14). Apesar das muitas oposições e das lutas, o Senhor estava com eles e com o Seu povo. Ele se revelava através dos seus profetas.

O livro do profeta Zacarias registra oito visões de Deus endereçadas a Zorobabel e Josué – palavras de exortação e encorajamento diante das adversidades.

A 5ª visão do profeta é a de um castiçal de ouro e de um vaso de azeite posicionado em cima, com sete canudos descendo do vaso e alimentando as sete lâmpadas do castiçal (v.2). Além disso Zacarias vê duas oliveiras, uma à direita e outra à esquerda do castiçal (v.3).

O profeta pergunta então ao anjo que falava com ele: “O que é isto?” (v.4). Ele reconhece que não sabe (v.5). Essa é a atitude correta diante da visão de Deus. Ao invés de sairmos a fazer o que achamos que deve ser feito, precisamos parar e ponderar. Muitos entram em uma de se acharem conhecedores o suficiente das coisas de Deus, por já terem experiências anteriores, por já estarem desempenhando um serviço no Reino. E mesmo nos empreendimentos pessoais, tanta gente se põe a fazer e a acontecer sem antes se certificar se o caminho que seguiram é realmente o caminho direcionado pelo Senhor.

Precisamos de humildade em qualquer atividade. Precisamos reconhecer que não sabemos ou dominamos tudo. Dependemos de uma interpretação correta da visão que Deus nos deu, do nosso chamado, do que faremos em nosso ministério, do que Ele requer de nós em nosso serviço. “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tiago 4.6). O apóstolo Paulo escreveu aos efésios: “Oro também para que sejam iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibas qual seja a esperança da sua vocação” (Efésios 1.18). Deus nos dará sabedoria se a pedirmos a Ele (Tiago 1.5-6).

O anjo então começa a explicar ao profeta: “Esta é a palavra do Senhor a Zorobabel: não por força nem por poder, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (v.6).

“Não por força” (hayil) – termo usado para a “força” dos carregadores em Neemias 4.10: “Desfalecem as forças dos carregadores, e os escombros são tantos que não podemos edificar o muro”. Esta era a queixa de Judá depois das confusões e perseguições de Sambalate, Tobias e de todos os opositores à reconstrução do muro.

“Nem por poder” (koah) – termo militar para “bravura”, proeza humana. Em algumas versões em português encontramos a palavra “violência”. Este termo remete ao “exército” de operários que Salomão tivera para a construção do primeiro templo (2 Crônicas 2.2).

“Mas pelo Meu Espírito” (rûah) – é o “sopro” do Senhor, o mesmo que deu vida ao homem no Gênesis, que abriu o Mar Vermelho no Êxodo e que reviveu o povo morto no vale de ossos secos diante do profeta Ezequiel.

Na obra de Deus, todos os nossos esforços próprios são inúteis, toda a proeza humana desfalece. Se o Senhor te deu uma visão, seja um projeto no Reino, em sua vida particular ou familiar, abrace-a com todas as suas forças, com fé! Busque o entendimento a respeito da visão. E não deixe de fazer a parte que lhe cabe!

Contudo, tenha isso muito claro em mente: se a visão é de Deus, se a obra é Dele, e se a sua vida pertence a Ele, então você depende totalmente do Seu sopro sobrenatural! É pelo Espírito que realizamos, é pelo Espírito que conquistamos, é pelo Espírito que vencemos os inimigos que se levantam contra nós! Essa é a atitude correta diante dos desafios e das oposições.

O anjo continua a explicar a visão: “Quem és tu, ó grande monte? Diante de Zorobabel serás uma campina” (v.7). Não há obstáculo grande o suficiente que resista ao poder de Deus! Ele aplana a montanha à nossa frente quando confiamos Nele. O salmista afirmou: “Bem-aventurado o homem cuja força está em Ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados” (Salmo 84.5). Zorobabel trará a pedra angular, uma representação de Jesus, em meio a aclamações: “Graça, graça a ela” (v.7). Jesus é o fundamento de qualquer empreendimento. Ele é a Rocha que sustenta a casa no dia da enchente (Lucas 6.47-48).

Mais adiante, o anjo esclarece que as duas oliveiras representam os dois ungidos do Senhor (v.14), ou seja, o próprio Zorobabel e Josué, e no meio deles o castiçal e o vaso de azeite, símbolos da presença e da ação do Espírito de Deus.

O povo de Deus em Mispa – Em 1 Samuel 7.1-13 vemos que o povo suspirou pela presença do Senhor. A arca da aliança havia ficado muitos anos distante de Israel. Samuel então os conduziu até Mispa, uma cidade onde eram guardadas as armas. Ali adoraram a Deus (tiravam a água e a derramavam perante o Senhor, não tiravam água para si mesmos) e se arrependeram (jejuaram e reconheceram seu pecado). Os inimigos filisteus, ao tomarem conhecimento de que os israelitas estavam em Mispa, se levantaram contra o povo de Deus, que ficou tomado de medo. Samuel se colocou como intercessor e ainda enquanto sacrificava, Deus trovejou sobre os inimigos e estes foram derrotados. Uma pedra foi erguida e chamada de “Ebenézer”, que significa: “Até aqui nos ajudou o Senhor”.

Note as semelhanças: o povo em um ajuntamento de Deus, os inimigos se levantando em oposição, a humilhação diante do Senhor, a vitória pelo Espírito, uma pedra entre eles como marco da conquista. Encontramos diversas passagens na Bíblia que correspondem a esta sequência.

O povo de Deus em Éfeso – Em Apocalipse 2.1-7 vemos o alerta de Deus à igreja de Éfeso sobre o seu pecado: ter abandonado o primeiro amor. Era uma igreja de grandes qualidades e realizações, porém esvaziada do amor de Deus, como observa o Pr. Ebenézer Bittencourt (Instituto Haggai):

• Trabalho perseverante – sem amor = ativismo
• Disciplina dos homens maus – sem amor = legalismo
• Prova dos falsos apóstolos – sem amor = religiosidade
• Perseverante na tribulação – sem amor = masoquismo
• Ódio aos dominadores – sem amor = hipocrisia

Deus afirma que removeria o castiçal caso os cristãos de Éfeso não se arrependessem e voltassem ao primeiro amor, ou seja, a essência do Espírito Santo.

A presença e a ação do Espírito se manifestam na vida daqueles que se humilham e reconhecem que nada podem sem o Senhor. Ele não despreza um coração quebrantado, arrependido diante Dele. Essa é a chave. Nossas qualidades e realizações, quando baseadas apenas na proeza humana, tendem à morte, ainda que partam de uma visão do Senhor. Saul foi um rei que tinha a visão de Deus, mas não agia pelo Espírito, não obedecia ao que Ele havia determinado (1 Samuel 15.22-23).

Você é hoje como o povo em Mispa, como Zorobabel e Josué? Ou tem sido como o povo em Éfeso, cheio de boas intenções, pensando estar agindo pelo Espírito, porém pautado apenas por suas próprias habilidades e capacidades? Você é um ungido de Deus, uma oliveira junto ao castiçal e ao vaso de azeite? Ou tem sido uma figueira brava, infrutífera?

Qual é a visão de Deus para a sua vida? Você consegue entender com clareza essa visão? Ela tem sido uma realidade de conquistas ou um grande monte de confusão e conflitos?

Que o Senhor nos ajude a compreender e a viver essas verdades. Que nossos olhos se abram com entendimento e sabedoria para vermos as grandezas de Deus e os maravilhosos planos que Ele tem para nós! E tudo o que empreendermos pela revelação divina, que seja pelo Espírito!
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