Deus também procura intercessores


Luciano Motta

Já é muito conhecida a história bíblica onde Jesus diz à mulher samaritana que o Pai procura verdadeiros adoradores que o adorem em espírito e em verdade (João 4.24). É bem verdade que, nos últimos anos, temos aprendido como igreja a adorar, a expressar o nosso amor por Ele com liberdade, com danças, com gestos de louvor e exaltação ao Senhor, com brados de júbilo! A última década foi de despertamento da igreja quanto ao seu relacionamento com Deus. O Espírito Santo acendeu (e continua acendendo) uma chama de paixão por Ele.

No entanto, também é notório nos últimos anos, infelizmente, o crescimento de um evangelho voltado para o homem, com canções, pregações e atividades que visam apenas o bem-estar das pessoas. Alguém já disse que é o "evangelho da auto-ajuda". Vigora não a idolatria de imagens de escultura ou de entidades de pedra e barro, mas a idolatria do "eu". Seja conforme "eu quero" ou "eu preciso". E como vivemos dias de fast-food, assim também é na igreja: os milagres devem ser instantâneos e as necessidades supridas imediatamente. Senão, procura-se outra igreja.

Ezequiel 22 é o retrato do que acontece a um povo que vira-se de costas para Deus e se entrega às suas próprias vontades. É uma advertência à igreja brasileira do século 21:

"Os seus sacerdotes violentam a minha lei, e profanam as minhas coisas santas; não fazem diferença entre o santo e o profano, nem discernem o impuro do puro; e de meus sábados escondem os seus olhos, e assim sou profanado no meio deles" (Ezequiel 22.26)

Sacerdotes fazem referência aos ministros de Deus. É um verso que diz muito sobre a igreja hoje. Crentes ignorantes em relação à Palavra e à vontade do Pai. Famílias, relacionamentos e atitudes que imitam o mundo. Profanam com seus pecados a santidade de Deus e desconhecem o arrependimento. Sabem pedir as bênçãos, sabem cantar louvores, músicas com letras de entrega e devoção, mas não vivem nada disso. O sábado representa dedicação ao Senhor, sacrifício, abrir mão de tudo para estar com Ele. A igreja tem fechado seus olhos para isso.

"Os seus príncipes no meio dela são como lobos que arrebatam a presa, para derramarem sangue, para destruírem as almas, para seguirem a avareza" (Ezequiel 22.27)

Príncipes falam de governo, de liderança. Pastores disfarçados de lobos, explorando as ovelhas. Com avareza, sugam delas os recursos financeiros. Com tirania, agem com autoritarismo. Também podemos aplicar esse verso à cobiça dos nossos governantes, que não pensam no povo, mas em si mesmos.

"E os seus profetas têm feito para eles cobertura com argamassa não temperada, profetizando vaidade, adivinhando-lhes mentira, dizendo: Assim diz o Senhor DEUS; sem que o SENHOR tivesse falado. Ao povo da terra oprimem gravemente, e andam roubando, e fazendo violência ao pobre e necessitado, e ao estrangeiro oprimem sem razão" (Ezequiel 22.28,29)

Profetas são aqueles que devem ser a referência espiritual para o povo, porta-vozes da vontade e da justiça de Deus. Mas temos visto falsos profetas com pouca consistência, sem base na Bíblia, a Palavra de Deus, que anunciam um evangelho ralo, mentiroso, enganoso, com mensagens de seus próprios pensamentos e idéias. Exploram a fé daqueles que não conhece a Verdade que liberta.

"E busquei dentre eles um homem que estivesse tapando o muro, e estivesse na brecha perante mim por esta terra, para que eu não a destruísse; porém a ninguém achei" (Ezequiel 22.30)

Aqui vemos o Pai procurando e não encontrando um tipo raro em nossos dias: intercessores. Creio que Ele tem visto poucos realmente preocupados com o declínio da nossa nação e do evangelho. Aqueles que não ficam reclamando da vida, mas se colocam na brecha, por onde o inimigo tem entrado e destruído a vida e a fé de muitos. Brechas na igreja, na sociedade, nos governos... Brechas nas famílias, nos relacionamentos, nas emoções... Quem se colocará nas brechas dessa nação? Intercessores também edificam os muros que ruíram. Quem reconstruirá com seu testemunho de vida os valores morais e espirituais que mantém a sociedade íntegra e segura?

Um verdadeiro adorador se importa com a vontade do Pai. Do contrário, restam apenas a boa música e as palavras bonitas. Um verdadeiro adorador entende que precisa clamar, chorar, suplicar intensamente por sua cidade, por sua igreja, por si mesmo. É urgente que os verdadeiros profetas do Senhor anunciem a Sua vontade, a mensagem de arrependimento, de retorno à santidade, de busca pela Sua face e não somente pelas bênçãos. Porque Deus também procura intercessores e esse tempo exige homens e mulheres dispostos a dizer: Eis-me aqui.

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