Pilatos e Herodes


Luciano Motta

Lucas 23.12:
“Herodes e Pilatos, que até ali eram inimigos, naquele dia tornaram-se amigos”


Dia desses, enquanto fazia minha leitura diária da Bíblia, meus olhos se fixaram neste verso. Nunca tinha notado que Pilatos e Herodes se tornaram amigos justamente quando estavam decidindo pela condenação de Jesus à morte de cruz ou pela sua soltura.

E minha mente, direcionada pelo Espírito Santo, creio assim, me remeteu ao Salmo 1.1: “Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores”.

Tanto este salmo quanto a passagem de Lucas tratam de opostos: o justo e o ímpio.

Pilatos e Herodes tinham Jesus em suas mãos – um homem justo, que não andava segundo o conselho dos ímpios, antes obedecia ao Pai em tudo (João 5.19). Jesus não se detinha no caminho dos pecadores, mas os exortava ao arrependimento, libertava os oprimidos, curava os doentes e ensinava a todos a respeito do Reino de Deus (Lucas 4.16-21). Jesus não se assentava na roda dos escarnecedores, porém comia com os humildes e pobres, abraçava os excluídos de seu tempo (Lucas 15.1-2). Obviamente Jesus deveria ser solto. Não havia Nele pecado algum.

Pilatos representa o julgamento carnal, a injustiça. Aquele que anda segundo o conselho dos ímpios. Nos quatro Evangelhos, Pilatos é retratado como alguém que reconhecia a integridade de Jesus e percebia a inveja dos principais sacerdotes pelo Mestre. Soltou o criminoso Barrabás para “contentar a multidão” incitada pelos líderes religiosos (Marcos 15.10-15). Pilatos cedeu ao clamor da injustiça ao invés de seguir seu próprio conselho a respeito do Filho de Deus (Lucas 23.22-25).

Herodes representa o deboche. Aquele que zomba, que escarnece. Aquele que despreza tudo o que diz respeito a Deus, que se detém no caminho dos pecadores. A fama de Jesus chegou até Herodes depois do tetrarca haver prendido e decapitado o profeta João Batista (Mateus 14.1-11). Desde então Herodes se esforçava para ver o Cristo (Lucas 9.7-9). Tal encontro aconteceu uma única vez, exatamente na primeira tentativa de Pilatos de se livrar de Jesus, ao enviá-lo até Herodes. Como o Mestre não lhe dirigiu uma palavra, resolveu escarnecer Dele, tratou-O com desprezo e fê-Lo vestir um manto espalhafatoso antes de devolvê-Lo a Pilatos (Lucas 23.6-11).

É nesse dia que Pilatos e Herodes se tornaram amigos. Algumas versões da Bíblia afirmam ter ocorrido uma “reconciliação” entre eles.

Ao tratarem Jesus com o pior que tinham em si mesmos, Pilatos e Herodes personificaram uma aliança maligna de oposição a Jesus. Entendo ser uma aliança que perdura até hoje em oposição a todo aquele que busca ter a vida de justiça e integridade de Jesus. Foram chamados de “cristãos” os primeiros discípulos, nos primeiros anos da igreja, por serem semelhantes a Cristo (Atos 11.26). E foram perseguidos – e muitos mortos – pelo mesmo motivo.

O capítulo 11 da carta aos Hebreus lista uma série de exemplos de fé do Antigo Testamento, pessoas marcantes que por perseverarem na prática da justiça passaram pela “prova de escárnios e açoites”, de prisões e aflições.

Certamente você e eu, que buscamos viver a vida de Jesus e morrer para nós mesmos, já passamos – ou estamos passando – por provas e oposições em nossa caminhada cristã. O Evangelho de Cristo é contrário ao espírito desse mundo, que promove a injustiça e escarnece daqueles que doam suas vidas e tomam cada um a sua cruz por amor a Jesus.

Diante de todas essas coisas, há algo muito precioso que não podemos perder de vista: “Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em JESUS, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz, desprezando a vergonha, e assentou-se à direita do trono de Deus. Pensem bem naquele que suportou tal oposição dos pecadores contra si mesmo, para que vocês não se cansem nem se desanimem” (Hebreus 12.1-3 NVI).

Ainda que Pilatos e Herodes se levantem contra nós, maior é JESUS que está em nós! Diante do escárnio e da zombaria dos ímpios, quando sofrermos injustiças, às vezes de pessoas tão próximas, de quem não esperamos, não precisamos abrir a nossa boca, não precisamos provar quem somos para ninguém. Vamos manter nossos olhos fixos Nele, vamos manter nossos pensamentos Nele e em tudo o que Ele suportou e conquistou em nosso favor.

Diz o salmista sobre o justo: “sua satisfação está na Lei do Senhor, e nessa Lei [a Bíblia, a Palavra de Deus] medita dia e noite. É como árvore plantada à beira de águas correntes: Dá fruto no tempo certo e suas folhas não murcham. Tudo o que ele faz prospera!” (Salmo 1.2-3 NVI) Se somos justos, essas palavras testemunham das grandezas de Deus em nós. Como afirma o apóstolo Paulo: “Se somos filhos, então somos herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, se de fato participamos dos seus sofrimentos, para que também participemos da sua glória. Considero que os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada” (Romanos 8.17-18 NVI).

Vamos correr com perseverança e alegria a corrida que nos é proposta. JESUS é a nossa recompensa.

Em tempo: Creio ser legítimo e necessário que servos de Deus, crentes fiéis e zelosos, combatam e refutem doutrinas estranhas à Palavra. É verdade que tantas coisas tem surgido e aparecido com o nome de “igreja” enganando e afastando mais e mais pessoas do único caminho: Jesus. No entanto, preocupa-me o fato de muitos se valerem dos mesmos artifícios dos ímpios para exporem defeitos, erros e diferenças de outros crentes, ministérios e movimentos que se dizem cristãos. Deter-se no caminho dos pecadores e agir como um escarnecedor leva inevitavelmente à injustiça. Assim, em algum momento, poderão incorrer em precipitação, julgamento carnal, vaidade e vontade de aparecer na mídia, divisão e falta de amor para com outros irmãos na fé. Em outras palavras: estarão agindo exatamente como Pilatos e Herodes, gerando amizades que promovem a condenação do justo. Podem incorrer em pecado e sufocar o amor e a fé de outras pessoas em nome de sua religiosidade. Lembremos da Palavra: “A nossa luta não é contra pessoas, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (Efésios 6.12 NVI).

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