A verdade inconveniente sobre amar


De Ricardo Régener | Blog Meu Lar

Você já parou pra pensar o quão arriscado é amar?

Há um texto bíblico que é mundialmente conhecido como um dos mais belos odes ao amor da literatura: I Coríntios 13. Você deve conhecer. O texto não deixa de ser belo mas, com toda a sinceridade, o que ele diz é terrível! Se o amor fosse relativamente simples como um contrato, seria um dos contratos mais injustos e desiguais de que se tem notícia. Amar pode deixar qualquer pessoa de mãos atadas para com a “coisa” amada. Segundo os versículos 4 ao 8, quando você ama, você se compromete, entre outras coisas, a:

-Suportar com paciência defeitos de caráter, mesmo os mais difíceis de serem suportados, não com conivência, mas sempre crendo mesmo contra a esperança, que a coisa amada pode ser melhor do que é
-Priorizar os interesses da coisa amada sobre os seus
-Confiar e esperar sempre o melhor, mesmo que pareça improvável
-Esperar o tempo da pessoa amada, mesmo pelos períodos que pareçam mais intermináveis
-Não desejar o mal a quem se ama, e nem desejar ser melhor que ele ou ocupar o seu lugar
-Não se colocar numa posição superior ao ser amado
-Não provocar a ira de quem se ama
-Sofrer as adversidades necessárias por causa do amor

Se o que está escrito em um contrato de amor já nos preocupa, mais terrível ainda é aquilo que não está escrito: não há nada que estabeleça que o ser amado é obrigado a retribuir qualquer gesto amável que seja. Isso dá ao amor um caráter essencialmente voluntário. O ser amado tem a liberdade de retribuir ou não o amor na medida, na intensidade e nas formas que bem lhe parecerem. O amor não cria qualquer tipo de dívida, e não há qualquer mecanismo de cobrança ou garantia de retorno.

Uma Realidade difícil de ser engolida

Nessa semana que passou eu fiz aniversário, e passei bastante tempo refletindo sozinho sobre o amor, e a verdade inconveniente de I Coríntios 13 fez o meu coração doer um pouco.

Todos nós já investimos em alguém por amor. Se você é pai, provavelmente já gastou com os seus filhos muito do seu tempo, das suas orações, do seu dinheiro, da sua energia física e emocional, e todo esse investimento foi por amor, não é mesmo? Não é apenas por nossos filhos que somos capazes de nos desprender, geralmente fazemos sacrifícios de amor também pelos nossos pais, irmãos, cônjuges, amigos, discípulos…

O que fez meu coração doer foi ter a impressão de que as pessoas que eu amo talvez não estejam dispostas a retribuir meu investimento na intensidade e das maneiras como eu gostaria de receber. E o pior de tudo: essas pessoas estão no uso do seu pleno direito e realmente não têm qualquer espécie de obrigação para comigo. É nessas horas que vem a tentação de cobrar, mas ela é infrutífera. A cobrança mata o amor, não há nenhuma maneira de amar que não seja voluntária, por livre e espontânea vontade e iniciativa.

Você consegue entender esse sentimento? (Alguém ai levanta a mão pra dizer que já sentiu isso por favor, eu não quero me sentir sozinho!). É uma sensação de impotência e de desperdício, como se não valesse a pena amar. É como um pai que, a despeito de todo o seu investimento, se vê diante de um filho frio que até está disposto a retribuir, mas não com a mesma intensidade e desprendimento que o pai lhe oferece.

A verdade inconveniente sobre o amor de Deus

Essa reflexão toda e esse sentimento me ensinaram a respeito de Deus, e isso me serviu por consolo. O que falar sobre o amor dEle? Sabem, meus queridos, a essência de Deus é amor. Não existe nenhuma maneira humana de traduzir esse amor que entregou o que Ele tinha de mais precioso por mim e por você. Ele entregou o seu único filho pra que você tivesse a vida!

Deus escolheu amar, e com essa escolha Ele se auto-limitou a todas as regras do escandoloso contrato de I Coríntios 13. Nem o próprio Deus tem o poder de nos obrigar a amá-lo intensamente como Ele nos amou. Amar a Deus é algo que depende unicamente de uma escolha pessoal, e Deus não tem nenhum poder sobre essa decisão.

Eu acredito que o coração de Deus chega a doer, como o meu já doeu, ansiando pra que você corresponda a esse amor, e não apenas corresponda, mas Ele torce pra que você corresponda intensamente, doando aquilo que Ele gostaria de receber como recompensa por te amar tanto. Você sabe o que Deus deseja de você?

Há um provérbio que responde a essa pergunta com muita simplicidade:

“Filho meu, dá-me o teu coração, e os teus olhos observem os meus caminhos” (Pv 23:26)

É isso mesmo! Deus quer o seu coração, Ele quer as primícias daquilo que você tem de mais precioso dentro de você. As suas músicas de louvor, as suas palavras de elogio, a sua dedicação ao ministério e às vidas perdidas até podem agradá-lo, mas quando alguém entrega o seu coração em sacrifício, o coração de Deus se enche de alegria e de certeza de que valeu a pena ter feito o melhor por você.

A sua escolha!

Querido, Deus te amou com o melhor, e por mais escandaloso que pareça, você não tem absolutamente nenhuma obrigação para com Ele. O seu amor é um ato voluntário, e é só você mesmo que define se não vai dar nada, se vai entregar um pouco ou se você vai dar o seu melhor a Ele.

E aí, decidiu? Você deseja dar o seu coração num ato voluntário de amor? Se sim, aonde é que ele está hoje? É pro seu trabalho que você entrega aquilo que você tem de melhor? É pro seu patrimônio? É na sua família e nos seus amigos que você coloca a sua esperança? É em vícios? É nos seus sonhos? É no seu ministério bonito? Entrega tudo isso! Dê a Deus a chave do seu coração, dê a Ele o prazer e a alegria de ser o seu tudo, de ter o controle das suas emoções, das suas forças, dos seus bens preciosos e do seu fôlego de vida. Ele gostaria de receber isso de você…

Em tempo, e não menos importante: ame e demonstre o seu amor pelos outros das formas mais intensas e puras, sem esperar nada em troca, nosso Mestre nos ensinou que vale a pena.

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